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"Eu costumo dizer que o maior prêmio de um escritor é um bom leitor. É para o leitor que um autor escreve. Um leitor que entende, qualquer que seja sua idade, é um presente. Para mim, o importante é que meu leitor se aproxime do que escrevo". Ana Maria Machado
É por vocês, leitores, que meu desejo de escrever se torna mais sólido, mais firme, é por isso que dedico meus fins de semanas e horas vagas relatando as minhas experiências, emoções e, até mesmo, revoltas. Enfim, compartilhando o melhor de mim com vocês, o meu mundo interior!

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domingo, 23 de janeiro de 2011

Conto escrito com o objetivo de ilustrar o quanto as pessoas vêm cada vez mais escravizando-se ao trabalho.

       
 Alienados ao nosso próprio ser...



          Assim que bateu o último sinal, saí apressadamente do Colégio. Era início de mês e as ruas da capital estavam lotadas. O clima era frio, característico do inverno na região. Os transeuntes congestionavam a avenida Cristiano Machado em todos os seus acessos. Eu caminhava atentamente por ela,  próximo a praça São Vicente, mas quando cheguei na altura de um botequim parei para observá-lo. Por poucos instantes que fixei nele, perdi a atenção e quase fui atropelado por uma moto.
         Senti curiosidade em entrar lá dentro, algo me atraía, não sei,  talvez a estrutura física do local, com portas arrombadas e marcas de tiros, como se estivesse acontecido alguma briga, assalto ou coisas dessa natureza. Encostei na entrada e, de lá, pude avistar um homem magro, aparentava ter seus 25 anos e que estava muito suado. Sentei em uma cadeira próximo ao balcão que por sinal estava muito sujo e pedi um refrigerante. Ele pegou e enquanto eu bebia, me perguntou se eu estava com certo temor ali dentro, pois era notável no meu olhar. Respondi que sim e o interroguei um pouco acerca de quem ele era.
         Resumidamente, ele foi me falando que trabalhava ali não por opção, porém porque era obrigado, pai de dois filhos, casou ainda cedo e morava em uma periferia bem distante dali, ia e vinha todos os dias, era muito corrido para ele, saia ainda escuro e só voltava lá pelas oito da noite.
         Ainda confuso, não entendia como alguém poderia está tão suado em um dia tão frio, quase todo mundo estava de casacos e bem vestidos afim de se protegerem de um resfriado. Entretanto, segui refletindo sobre isso até chegar na Estação Minas Shopping, onde desço e pego um ônibus até o bairro que moro.
        Por 02 anos seguidos, fazia parte do meu cotidiano passar em frente aquele bar e verificar naquele homem a mesma feição, suada. Nesse mesmo ano me formei, por ser de família humilde, iria já começar a trabalhar para cursar um Ensino Superior.
        Certo dia, subi o morro em busca de tranquilidade para ler um livro, contudo poucos minutos depois fui interrompido por meu irmão caçula dizendo que meu pai estava a me chamar. Sem demoras, fui. Ao chegar, ele me surpreendeu com a notícia de que a partir do próximo dia, eu iria trabalhar numa loja em pleno centro de Belo Horizonte. Logo, hesitei em não ir, era muito longe, iria fazer uma viagem todos os dias, porém quando pensei bem, vi que trabalhar em uma loja no centro era um bom serviço. Entusiasmado, no outro dia, levantei de madrugada, muito frio, vesti a minha jaqueta, calça jeans, tênis all star e ainda com frio fui. Tive que pegar o metrô, um coletivo e ainda caminhar um bom pedaço até chegar nas proximidades do centro.
         Estava nevoando quando me aproximei da loja, mas antes olhei-me numa vidraça e percebi no meu rosto um suor exacerbado, parecido com o daquele homem que por anos eu não entendia o motivo. Foi só aí que cheguei a resposta que tantos anos me indagou, que não é só o calor que nos faz transpirar, mas também o esforço para cumprir nossas tarefas. Imaginei-me no lugar daquele sofrido ser, que por tempos se escravizou naquilo, sem saída, pois havia filhos e esposa a sua espera quando já bem a noite ele chegasse em casa. E que agora era chegado a minha vez...

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